RESTAURANTES POR QUILO EM GOIÂNIA USAM CRIATIVIDADE NA RETOMADA ECONÔMICA E VÃO ATRÁS DE PRÊMIO

Quem não gosta de um bom restaurante por quilo, bom brasileiro não é, diria o sambista. É. Tudo bem que Dorival Caymmi não escreveu exatamente nessas palavras, mas a verdade é que aquele bom e tradicional self service é um clássico que mesmo em meio a uma pandemia violenta que destruiu vidas e comércio, estabelecimentos persistiram e muitos tornaram-se sobreviventes de uma das maiores crises da humanidade.

E claro, todo o bom goiano, seja pela correria do dia-a-dia ou aquele reencontro com amigos, não dispensam a experiência de uma boa comida por quilo. A versatilidade e as fartas opções fazem valer a pena. Com a turbulência apocalíptica ficando para trás, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) pretende premiar o melhor self-service do Brasil.

Em Goiânia o concurso é uma realização da Abrasel e Sindibares com o apoio do SEBRAE e 24 estabelecimentos estão concorrendo ao prêmio de “melhor restaurante de comida a quilo do Brasil”. O sabor  do evento é ainda mais especial, haja vista que a pandemia trouxe uma série de prejuízos ao segmento que colocou o futuro dos estabelecimentos à prova.

Levantamento da própria Abrasel divulgado em maio deste ano constatou o fechamento de pelo menos 80 mil estabelecimentos que trabalhavam com comida a quilo em todo o território nacional. “O restaurante por quilo atende a família, o pai que leva o filho na escola. Durante a pandemia, as famílias e a população que trabalha durante o dia foram todos perdidos porque todo mundo estava em casa. O comércio, as escolas, os estabelecimentos no geral estavam todos fechados”, explica Glauce Godoi, proprietária do Rancho Gastronomia que participa do festival com um filé de pirarucu assado e envolvido na folha de taioba. “Daí a dificuldade em sustentar todas as crises”, pontua.

Glauce explica que se não fosse a possibilidade da entrega por aplicativo e também do cliente pegar na porta, a situação seria ainda mais difícil. “Ainda estamos ainda lutando para sobreviver. Tem três palavras no momento: força, recuperação e muita luta. Se não juntar isso, a gente não consegue”, destaca. No entanto, ela vê um futuro melhor para o segmento de comida por quilo.

“Muita gente falou no início que o self service iria acabar. Quando foi liberado que poderia voltar a servir no buffet eu continuei ainda uma semana com o modelo de rotisseria. Quando percebemos que os clientes queriam que o buffet estivesse aberto. Eu tive a certeza naquele momento que o segmento era forte. Como qualquer outro segmento as perspectivas são boas. Tem que ter fé e atitude para fazer acontecer. As coisas vão melhorar”, destaca.

Mudanças no cardápio e na forma de atender o cliente

Glauce viu na pandemia que deveria entregar uma alimentação mais saudável aos seus clientes. Afinal de contas, o mundo pedia saúde em primeiro lugar após ver tantas mortes por conta de um vírus desconhecido. O cardápio do estabelecimento que existia a 24 anos mudou. “A leitoa você não encontra mais no nosso restaurante”, brinca. As carnes foram limitadas a três por dia e agora existe até opções para quem adere ao estilo de vida vegano e vegetariano.

 O prato que participa do festival não poderia ser diferente. “Nós criamos um prato buscando o pilar mais importante para a vida que é a saúde, ou seja, saudável onde a gente tem um equilíbrio com qualidade e variedade. O prato que participamos é o filé de pirarucu assado na taioba”, destaca. Além de ser afetivo para Glauce, o prato, garante ela, é uma delícia. Todo o processo é feito com muito cuidado. Inicialmente, o peixe é temperado com especiarias e levado para ser assado. Após isso, envolvido numa folha de taioba que perde o sabor amargo. Finalizada com um mix de castanhas e uma banana grelhada e flambada na cachaça, a iguaria é algo inigualável, garante Glauce. “A taioba enrolada no pirarucu o sabor é indiscutível. Tem que experimentar, eu costumo falar que melhor que falar é experimentar”, destaca.

Vacinação foi um divisor de águas

O proprietário do Troppo Restaurante & Chopperia, Chakib Maana Neto vê nos festivais promovidos pela Abrasel e o Sindibares ambientes perfeitos para isso. “Eu sempre gostei de participar dos festivais que acontecem. Isso valoriza e nos coloca como evidência”, destaca.

Após dias difíceis, vivendo apenas pelo delivery e entrega na porta do estabelecimento, Neto enxerga tempos melhores num futuro. A vacinação foi um divisor de águas para que o futuro pudesse ter outra perspectiva do que foram os últimos um ano e sete meses. “Eu acredito muito nessa retomada e tenho muita fé que as coisas vão melhorar. Agora, com a vacina todo o mundo se vacinando, o povo está perdendo um pouco de sair para a rua. Eu acredito que com a vacinação, o ano que vem será ainda melhor”, pontua.

O que fez com que conseguisse sobreviver a um período tão periclitante? “A gente se adaptou rápido. Melhoramos nossos deliverys e conseguimos implementar rápido a questão da entrega rápida e do cliente buscar. Também trabalhamos com pratos a la carte e oferecemos boas opções para o cliente”, destacou.

O prato não poderia ser outro: um dos que mais saem, feito com cuidado e bastante gostoso. É uma panceta assada lentamente em baixa temperatura. “É assada em baixo cozimento por aproximadamente duas horas, após ser temperada com pimenta do reino, dedo de moça, sal e alho. Quando está no ponto certo, colocamos o couro dela bem próximo ao fogo alto para ela pururuca e então é servida”, explica. O resultado não poderia ser outro: água na boca.

É um prato bem aceito e procurado pelos nossos clientes. Não é um molho de pasta de alho comum. Tem um segredo da casa que o pessoal adora. Implementamos outras coisas como o pequi que é algo que temos todos os dias e lembra a culinária goiana que todo o goianiense gosta.

“O pior já passou”, destaca proprietário do Mau Nenhum

Restaurante consolidado há mais de 30 anos no mercado em Goiânia e com três unidades estabelecidas na capital, o Mau Nenhum é um autêntico dos clássicos no que diz respeito à comida por quilo. “É um restaurante familiar, trabalha eu meu pai e minha mãe e meu irmão”, descreve Fabrício Lima, proprietário do local e que conduz a unidade do Setor Bueno.

Para o evento, a escolha foi o cupim e a picanha ao molho de alho. Mas não é qualquer pastinha, não, garante o proprietário. “É um prato bem aceito e procurado pelos nossos clientes. Não é um molho de pasta de alho comum. Tem um segredo da casa que o pessoal adora”, pondera. Como restaurante-raiz, o foco na culinária goiana não poderia deixar de existir. “Implementamos outras coisas como o pequi que é algo que temos todos os dias e lembra a culinária goiana que todo o goianiense gosta”, destaca.

A expectativas para o futuro, segundo Fabrício, são as melhores. “Perspectivas daqui pra frente, temos uma escala crescente muito boa. Temos conseguido recuperar os clientes que estavam com medo. Estamos bem com uma expectativa bem positiva para o ano que vem. Acredito que o pior já passou e agora é trabalhar para recuperar o tempo perdido”, garante.

Como funciona o festival

O Quilo é Nosso acontece em três etapas. Na primeira, o consumidor analisa ambiente, atendimento, limpeza, qualidade geral do buffet, receita participante do concurso e adequação às normas de prevenção à covid do restaurante, sendo que a categoria “receita” tem peso dois e as demais, peso um. Para registrar o voto, o cliente deve acessar o site oquiloenosso.com.br, preencher o cadastro e votar.

Esse momento, que tem o voto popular e do júri, elege os três melhores estabelecimentos de comida a quilo de cada estado, que se classificam para a fase seguinte. No novo desafio, os três melhores competem entre si e somente um por estado vai para a grande final, que ocorrerá em São Paulo nos dias 17 e 18 de novembro. Na última etapa será, então, divulgado o pódio com os melhores restaurantes a quilo do Brasil.

A pandemia ainda não passou

O concurso O Quilo é Nosso foi planejado pensando em todos os protocolos de segurança para os clientes e colaboradores do restaurante. A Abrasel sabe que para saborear uma boa comida e a companhia dos colegas de trabalho, familiares e amigos em um delicioso almoço, é preciso que todos colaborem e sigam as recomendações. Por isso, os estabelecimentos participantes do concurso serão incentivados a serem propagadores dessa ideia e exemplo para todo o setor. Os restaurantes participantes deverão seguir obrigatoriamente os protocolos de prevenção à Covid-19 estabelecidos pelas entidades de saúde de cada município.

Origem do quilo

Invenção genuinamente brasileira, o restaurante de comida a quilo é a escolha diária de milhões de pessoas em todo o país. O primeiro estabelecimento deste tipo no Brasil, e consequentemente no mundo, foi criado em 1984, em Belo Horizonte, pelo empresário e chef Fred Mata Machado. Ele manteve em funcionamento, durante três anos (1984-1987), a primeira de suas quatro casas, que se localizava na Rua Professor Antônio Aleixo, quase esquina com a Rua Rio de Janeiro, no Bairro de Lourdes, contíguo ao Bar do Lopes. Foi a partir dali que o conceito se espalhou pelo Brasil inteiro.

FONTE: Domingos Ketelbey para Diário de Goiás

https://diariodegoias.com.br/restaurantes-por-quilo-em-goiania-usam-criatividade-para-retomada-economica-e-vao-atras-de-premio/

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